Ingrid é a mãe devotada de dois marmanjos formados, situados na vida e beirando os 30. Apesar disso, ambos moram com os pais e se submetem às mais ridículas interferências em suas vidas amorosas. Qualquer escolado em superproteção materna sabe que na vida real isso não existe. Que mãe avançaria na privacidade de um adulto com tanta sem-cerimônia? E pior, que filhos receberiam isso como se fosse um dado da natureza? Portanto, a trama de Ingrid/Jorge/Miguel é a menos realista da história realista de Manoel Carlos. Nem numa piada puxadíssima sobre mães judias tanta invasão seria possível.
Por que então os dramas desta família chamam tanto a atenção do público? Por dois motivos: primeiro, a convicção e entrega dos atores (Natália e Mateus Solano) é tão grande que não há muita margem para dúvidas. O telespectador acredita naquelas discussões e pronto.
A outra razão é que nem só de inverossimilhança vive Ingrid. As contradições morais da personagem enriquecem sua história e a tornam factível. Ela é uma daquelas pessoas “que não conseguem mentir”. Fala “verdades” horríveis em nome desta franqueza patológica. Quem não conhece alguém assim? E pior: quem não odeia alguém assim que conhece? Por outro lado, por trás das atitudes de Ingrid há uma espécie de “verdade universal sobre mães” de que ninguém duvida: a crença de que pelos filhos vale tudo. Esta combinação de antipatia com justificativa para atravessar o respeito ajuda a cativar a plateia criando um jogo de atração e repulsa.
O fato é que tem valido a pena acompanhar a dinâmica daquela família. Nem que seja para ver Natália do Vale dar um show em cena.
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