domingo, 9 de maio de 2010

Natália do Valle fala sobre Ingrid, a supermãe que roubou a cena na reta final de 'Viver a vida'

"A personagem está me colocando em confronto com situações e sentimentos que nunca vivi na vida"


Natália do Valle nunca teve filhos. Já na ficção, em 30 anos de carreira, a atriz já viveu um sem-número de mães. Mas nenhuma como a Ingrid de "Viver a vida", que não é simplesmente a mãe dos gêmeos Jorge e Miguel (Mateus Solano): é uma supermãe, daquelas que infernizam a vida dos rebentos cobrindo-os de atenções e cuidados nem sempre requisitados. Para moldar a fortíssima personalidade da personagem - um dos destaques da reta final da novela, que termina na próxima sexta - Natália recorreu a lembranças da própria mãe, a dona de casa Sara Freitas:

- Minha mãe não era megera. Mas era controladora. E colocava os filhos em primeiro lugar na sua vida. Lembro que quando eu e meu irmão Antonio éramos pequenos, ela ia ao cinema com meu pai e voltava no meio da sessão, aflita, para saber se estávamos bem em casa.

Na adolescência, Natália passou por mais meia dúzia de saias justas na casa dos pais, no Leblon, como ter conversas telefônicas "grampeadas" por dona Sara e livros remexidos. Nada grave.

- Quando eu tinha 17 anos, minha mãe ligou para a mãe de um namorado meu de que ela não gostava. Fiquei com tanta vergonha que não quis saber o que ela falou. Eu me senti muito invadida.

É na posição de filha, ou vítima, que Natália se põe na hora de avaliar o desempenho da fotógrafa de mulheres maduras que agitou a novela das 21h:

- A Ingrid é indefensável. Se eu fosse filha dela, já teria saído de casa há muito tempo.

A cada novo capítulo do folhetim escrito por Manoel Carlos que chega às suas mãos, Natália demora um certo tempo para digerir as farpas que terá que soltar mais tarde, nos estúdios:

- A Ingrid está me botando em confronto com situações e com sentimentos que nunca vivi na vida.

Entre as diretíssimas que mandou para Renata (Bárbara Paz) no café da manhã, o embate com Luciana (Alinne Moraes) na Casa Amarela e a conversa franca com Ariane (Christine Fernandes) no café do shopping, Natália elege a cena da visita ao apartamento de Myrna (Aline Fanju) - garota de programa que teve um breve affair com Jorge - como uma das mais difíceis protagonizadas por sua personagem que não desce do salto.

- Vendo do lado do filho, isso me agrediria muito. Na hora de fazer a cena, levei um susto. Pensava: "Como é que vou fazer isso?" Por outro lado, fazer uma personagem com características que eu abomino pode ser uma delícia, pois você não faz um retrato de si mesma - explica Natália, que já usou a raiva de ficar quatro horas esperando para gravar no frio dos corredores do Projac, num domingo, a seu favor. - Antes de entrar no estúdio fico concentrada, andando com a minha sandália rasteirinha. Quando entro em cena, subo no salto alto e me sinto Ingrid.

No início da novela, a atriz acreditava que a sua personagem seria recebida por um arsenal de críticas nas ruas. Mas foi exatamente o contrário.

- Fico abismada com o número de mães que me abordam na rua. Acho que quando elas veem uma mãe como a Ingrid na televisão, se sentem absolvidas. É como se esse amor incondicional legitimasse todas as crueldades - opina.

Natália também tem sido cortejada por meninas que sonham em virar suas norinhas na ficção.

- Digo que foram anos de profissão para conseguir ter dois filhos tão lindos como os meus - diverte-se ela. - O Mateus foi uma bênção na minha vida. Parece que trabalhamos juntos há 20 anos.

A recíproca é verdadeira:

- Ela é uma atriz que olha a gente no olho. É uma companheira de cena admirável. Adoro ser filho dela - rebate Mateus Solano, que já foi a dois almoços de domingo na casa de Natália. - Ela também é ótima anfitriã.

Mãe e filhos vão ficar juntos até o último capítulo da novela, segundo as pistas dadas por Manoel Carlos. Nem que para isso Ingrid finja que tenha engolido Ariane e Luciana.

- Não acredito que ela tente uma redenção com honestidade. O que Ingrid pensa e diz tem muitas adeptas. Mas confirmar publicamente essa adesão é difícil. É como confirmar preconceito racial. Sabemos que ele está aí, latente, mas quem é que tem coragem de se dizer preconceituoso? Ingrid me parece que vai fazer a mesma coisa: vai dizer às noras que está tudo bem, mas nunca estará - conta o autor.

A Ingrid, assim como a Lúcia de "Baila comigo" (1981), a Silvia de "Mulheres apaixonadas" (2003) e a Carmen de "Páginas da vida" (2006), foi escrita por Maneco especialmente para Natália.

- São papéis exclusivos, criados para ela. A Natália está entre as minhas atrizes prediletas - derrete-se Maneco.

Após se despedir de Ingrid, Natália terá férias curtíssimas. Em poucos meses, ela começa a se preparar para integrar o elenco de "Lado a lado", novela de Gilberto Braga que entrará no horário nobre após "Passione". A atriz, aliás, não esconde a empolgação de participar de uma obra de Gilberto 30 anos depois de "Água viva", folhetim responsável pelo seu reconhecimento nacional. Por que o reencontro demorou tanto? Gilberto responde:

- Sempre que queria chamar ela estava numa novela do Manoel Carlos. Agora dei sorte - diz o autor, que guarda boas histórias de Natália. - Na época de "Água viva", ela começou a namorar o Paulo Ubiratan (diretor da Rede Globo e seu primeiro marido), durante as gravações. Claro que muita gente me perguntava se ela foi chamada por causa disso. É engraçado, porque, na verdade, ela tinha um pistolão, sim, uma grande amiga minha, Márcia, sua colega no Instituto de Educação. Márcia vivia me pedindo papel pra sua colega do Instituto, que antes tinha feito "Gabriela" (novela exibida em 1975).

Sobre "Lado a lado", o autor faz sigilo. Ele diz apenas que Natália será Wanda, mulher casada com o personagem de Antonio Fagundes e mãe de Fábio Assunção e Eriberto Leão.

- Vai ser muito bom trabalhar de novo com o Gilberto e com o (diretor) Dennis Carvalho. Estou com frio na barriga, me sentindo uma principiante - exalta a atriz.

Aos 57 anos, Natália tem mesmo é disposição para deixar qualquer principiante morrendo de inveja. Mas engana-se quem pensa que ela mantém a forma sofrendo na academia.

- Faço exercício por uma questão de saúde. Tenho horror à ditadura da beleza, isso virou uma patologia. Ouço absurdos como: "Fulano tirou uma costela!". Quando estou cansada, não vou malhar. Mas sempre que não tenho gravação, visto a roupa de ginástica para me obrigar a ir... Mas já passei na porta, prontinha, e não entrei - ri, enquanto justifica o figurino com que recebeu a Revista da TV em sua cobertura, no Leblon: tênis, meia, calça legging e camiseta. A propósito, no dia do nosso encontro Natália não bateu o ponto na academia.

A atriz é avessa a badalações. Se alguém encontrá-la num tapete vermelho, pode ter certeza que algum amigo querido faz parte da estreia.

- Isso de ter que ser famoso pelo número de fotos em que a pessoa aparece me irrita. Tem gente que vai a todos os desfiles, todas as estreias de teatro. Vale até jogo de futebol! Se a pessoa está procurando isso, ótimo. Mas se está construindo uma carreira, tem que trabalhar. Não quero ser mais ou melhor do que ninguém. Mas a minha escolha é essa. E tenho 30 anos de carreira - afirma.

Para Miguel Falabella, seu grande amigo - e sócio no quadro com a imagem de Marilyn Monroe que colore a sala de estar da casa da atriz-, o público reconhece a classe de Natália.

- Ela é uma dama. E nós gostamos das damas. O mundo se atordoa com as cachorras, mas no fundo sempre busca uma dama - filosofa Falabella.

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